Vida acadêmica


Quando pequena, estudava e buscava a aprendizagem com uma perspectiva de mudança. Queria planejar minha vida, para isso, perseguia as minhas metas, que não eram nem um pouco audaciosas. Elas baseavam-se apenas numa formação básica. Queria concluir meus estudos para trabalhar em qualquer outra área que não fosse da educação: moda, artes plásticas e dramáticas, decoração... Ansiava poder trabalhar, ganhar um salário que pudesse manter-me de forma digna, sem riquezas, somente o necessário para viver. Confiando em minhas habilidades, segui esse pensamento por longo tempo, a minha mãe dizia sempre com ar de experiência: “Trabalho é aquele que nos sustenta.” Ela sempre esteve certa. O professor não é bem remunerado, mas faz malabarismos para organizar turnos de trabalho a fim de reforçar o orçamento.

Foi num final de dezembro de 1989, quando ela, sem levar em conta a minha opinião, matriculou-me no curso de Magistério, no Colégio Estadual Alberto Torres. (C.E.A.T.) , na cidade de Cruz das Almas, cidade em que morávamos. Poucos dias antes do início das aulas, aproveitando a sua ausência, transferi-me para o curso de Administração. Quando foi iniciado o ano letivo, muito satisfeita, freqüentei as aulas por alguns dias, mas meu nome não constava em nenhum diário de classe. Para a minha surpresa, a secretária certificou-se com ela, qual seria mesmo o curso que eu faria, retornando-me assim para o magistério. Freqüentei as aulas a contragosto e perguntava-me o tempo inteiro o que eu estava fazendo ali. Pensava ainda na remuneração, na falta de reconhecimento por parte de muitos - na época falava-se muito nisso.

E quanto mais o tempo passava, mas me aterrorizava a idéia de estagiar e ser observada, ser avaliada pelos professores regentes, já que eu detestava falar em público e até hoje tenho certa relutância, sentia muito medo de enfrentar aqueles olhares críticos analíticos. Não queria que esse dia chegasse de forma alguma. 
Conforme fala Manacorda (1989), quem tem a liberdade de aprender, de ensinar e pesquisar, acaba desenvolvendo estratégias e atividades originais no ambiente escolar, de tal modo significativo que deve a liberdade de divulgar seu pensamento, sua arte e seu saber.  

Chegou o tempo então da faculdade. Participei da seleção para ingressar no grupo que participaria da Formação Continuada oferecida pela UFBA em parceria com a Faced.

 
O momento que se vive é de unificar, o trabalho em sala de aula e a teoria estudada. É urgente a necessidade de que o educador aprofunde seu conhecimento, entenda e analise as posturas educacionais que no decorrer dos anos passaram a fazer parte do seu discurso. É preciso que o educador seja capaz de relacionar a sua prática diária à intencionalidade e para isto, o estudo teórico pode ser um grande aliado suscitando muitas interrogações que podem  abrir novos caminhos.
 Foram muitas atividades durante o curso, entre elas, posso citar atividades que contribuíram diretamente e indiretamente para a minha formação.

O GEAC- Pedagogia do A-Con-Tecer com Inez Carvalho foi muito importante para minha prática. Quando comecei a trabalhar na Rede Municipal de Irecê, parecia que nada eu sabia, nenhuma atividade que eu preparava para os alunos estava adequada à proposta de ensino da rede. Parecia que eu estava fazendo algo absurdo. Se utilizasse qualquer atividade tradicional era motivo de reunião, era como se nada do tradicional se aproveitasse. Então, quando Inez discutiu sobre a prática e disse que deve-se aproveitar o lado bom do construtivismo e do tradicional, senti-me aliviada pois era exatamente o que eu estava fazendo.
O professor aprende para poder melhor discutir com seus alunos. Que nova visão tive ao fazer a atividade de Geografia com o profº Mutt. Os meus conhecimentos acerca dessa disciplina, antes, resumiam-se apenas a mapas e livros didáticos. Como foi bom descobrir as inúmeras atividades que podemos fazer nessa área, a exploração dos conteúdos utilizando vários recursos para tornar a aula mais prazerosa, garantindo o envolvimento de todos.
    
 No meu tempo de colégio, eu detestava a Geografia. Decorar estados, capitais... Era uma aula expositiva, cansativa e desinteressante.
Atualmente, dependendo dos recursos disponibilizados pela escola, o aluno pode fazer leituras de mapas mais profundos utilizando data show, transparências, vídeos, pesquisar na internet e trabalhos práticos de forma individual ou em grupo, além de fazer pesquisa de campo que tem a vantagem de entreter mais ainda as crianças, coisa que na minha época era mais difícil.
A construção de textos na atividade de Lícia Beltrão “Oficina da Palavra Escrita”, chamou-me a atenção sobre a direção da sala de aula. O professor deve também ter autonomia para administrar a sua sala de aula, prender a atenção dos ouvintes sem esforço. Isso ela sabe fazer com elegância e segurança. Qual professor não teve a vontade de agir como ela, de tornar a aula mágica, alegre, feliz? Eu, sinceramente, fiquei encantada. Os professores cursistas sorriam alegres e satisfeitos como as crianças que recebem na sala de aula uma professora nova e substituta, cheia de vida e novidades. Todos permaneciam na sala e interagiam com a professora nos momentos adequados. O estudo da construção da escrita, a brincadeira com as palavras foi bastante inovadora para a minha prática pedagógica.
 Segundo Maria Elizabeth de Almeida, Professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), os professores que se revelaram flexíveis em relação à própria liberdade de ação e a dos alunos, respeitando-lhes a autonomia e o estilo individual, deixavam transparecer uma outra prática que tinham em sala de aula.
O professor é o condutor do processo. Ele é a autoridade em sala de aula, onde tem que ser respeitado a autonomia do aluno. O professor precisa saber ver e compreender o que o aluno está fazendo e muitas vezes esperar o momento adequado para interferir e auxiliá-lo. Então, o professor tem que ter uma atitude de abertura ao diálogo e de parceria com o aluno.
As orientações sobre Tecnologia com Mª Helena Bonilla e Menandro Ramos ajudou-me e muito nas questões tecnológicas. O que era a vida virtual para mim antes do curso? Eu não fazia parte do mundo digital. Foi muito importante para mim, ser inserida digitalmente, onde pude navegar em outros “mares”, expandir os meus conhecimentos fazendo uso da tecnologia, acompanhando a atualidade e utilizando-a para enriquecer a prática pedagógica. Os coordenadores não trouxeram a receita pronta sobre como utilizar as máquinas, expuseram a importância de estar incluída digitalmente, de estar antenada ao novo, ao mundo virtual.
No estudo Pedagógico, há uma preocupação muito grande em relação à aprendizagem dos alunos. Em, ficou esta reflexão:
 
Em meio a tantas dificuldades, tanta complexidade que é o mundo da educação, pergunto-me o tempo todo a fim de encontrar uma resposta. Por que sou professora? Desde quando estou inserida, realmente nesse meio?

No mundo pedagógico há situações que nos mostram a necessidade urgente de ser mais humano, levando-nos a um olhar mais amplo sobre a vida, às necessidades dela. E partindo dessa reflexão, eu senti-me no dever de, juntamente com outras pessoas envolvidas, tentar salvar algumas crianças que são jogadas no imenso rio do mundo. Percebi que é preciso colocá-las em terra firme e mostrá-las os caminhos para então, escolherem os que lhe serão promissores.

É maravilhoso quando um professor tem a oportunidade de injetar uma simples palavra de incentivo na vida de uma criança. Mais maravilhoso ainda é quando ela agarra essa oportunidade. Mas talvez a maior satisfação de qualquer professor seja ver o brilho nos olhos de uma criança quando ela descobre algo novo sobre si mesma e sobre o mundo que a cerca. E penso que foi isso que despertou em mim o orgulho de ser chamado de “professor”.