A PRÁTICA EDUCATIVA EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Cristiano Martins
Janara Araújo
Mª José Freire
Samai de Azevedo
Sandro Gomes
Veralúcia Brito
Viviane Barbosa
Orientadora: Kátia Cristina Novaes Leite
“Para entender é preciso esquecer
quase tudo o que sabemos.
A sabedoria precisa de esquecimento.
Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser
Que se sedimentaram em nós, e que
Nos levam a crer que as coisas têm
De ser do jeito como são. (...)”
Ruben Alves
Fruto de uma longa história de luta pelos direitos humanos, a educação inclusiva passou por vários momentos e movimentos, a respeito dos quais não se pretende aqui fazer uma descrição exaustiva. A ideia de uma sociedade inclusiva fundamenta-se numa filosofia que reconhece e valoriza a diversidade como característica inerente à constituição de qualquer sociedade. Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário ético dos Direitos Humanos, sinaliza-se a necessidade de garantir o acesso e a participação de todos a todas oportunidades, independentes das peculiaridades de cada indivíduo. Sabendo que em todas as instituições de ensino existem diversidade e que a inclusão cresce a cada ano, mesmo as escolas não estando preparadas para acolher e lidar com o diferente, é necessário buscar nos princípios filosóficos, sociológicos e antropológicos a contribuição para a concepção de uma escola que atenda à diversidade.
Sendo assim, uma política de educação inclusiva fundamentada na concepção de direitos humanos deveria ser impulsionada pelos movimentos sociais buscando reverter processos históricos de exclusão educacional e social, visando deste modo, a garantia do acesso de todos os alunos à escola da sua comunidade, independente de suas diferenças sociais, culturais, étnicas, raciais, sexuais, físicas, intelectuais, emocionais, linguísticas e outras. Para além da igualdade de oportunidades, a inclusão focaliza a valorização das diferenças e desenvolvimento de projetos pedagógicos que atendam as necessidades educacionais dos seus alunos e promovam mudanças nas práticas e ambientes escolares, de modo a eliminar as barreiras que impedem o acesso ao currículo e o exercício da cidadania.
Segundo Kunc (1992), o princípio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a ideia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo. Portanto, a inclusão é mais que um modelo para a prestação de serviços de educação especial. É um novo paradigma de pensamento e ação, no sentido de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se tornando mais normal do que exceção (Skrtic, 1994, citado por STAINBACK e STAINBACK, 2000, p.31).
A “Educação Inclusiva” desloca certezas sobre os espaços da escola; o dentro e o fora se confundem; as paredes que separam escolas regulares e especiais se fundem; formatos curriculares e estratégias de avaliação se tornam obsoletos, não dão conta do que se apresenta. Trata-se da revolução paradigmática que se desencadeia com o movimento inclusivo e com as gradativas evoluções legais que sustentam esse mesmo movimento.
Como uma proposta pedagógica, a educação inclusiva não está restrita ao campo de atuação da educação especial, mas em alterar a estrutura tradicional da escola fundada em padrões de ensino homogêneo e critérios de seleção e classificação, passando a orientar a construção de sistemas educacionais que efetive o direito de todos à educação. Ao assumir o compromisso de alterar as práticas educacionais e fundar uma nova cultura escolar que valorize as diferenças, a educação especial supera o caráter restrito identificado pela visão clínica e assistencial, passando a produzir avanços na perspectiva de inclusão e da acessibilidade.
A verdade é que, o homem mudou consideravelmente a sua história, seus rumos. Muitas foram às modificações ocorridas pelos avanços da ciência, contudo há muitas mudanças fundamentais a serem efetivadas e adaptadas as novas exigências, como a capacidade solidária entre as pessoas. A sociedade do terceiro milênio é uma sociedade em que não há mais espaço para exclusão. A inclusão é um dos princípios fundamentais para a transformação humanizadora desta sociedade do terceiro milênio. É ainda muito difícil pensar que a educação tem seu movimento lento, qualquer que seja a transformação na educação ela é paulatina, mas isso não impede de construirmos atitude e práticas em nosso cotidiano com o devido tempo e cuidado.
O paradigma da inclusão vem ao longo dos anos, buscando a não exclusão escolar e propondo ações que garantam o acesso e permanência do aluno com deficiência no ensino regular. Por isso, para se falar em inclusão é preciso repensar o sentido que se está atribuindo à educação, além de atualizar nossas concepções e resignificar o processo de construção de todo indivíduo, levando em conta as suas potencialidades e não apenas as disciplinas e resultados quantitativos. Nessas condições, “todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível, independente das dificuldades e diferenças que apresentem” (Salamanca, 1994) sabendo que, “o que for feito hoje em nome da questão da deficiência terá significado para todos no mundo de amanhã” (Madrid, 2002).
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) vem ao encontro do propósito de mudanças no ambiente escolar e nas práticas sociais/institucionais para promover a participação e aprendizagem dos alunos com necessidades especiais na escola comum. As pessoas com necessidades especiais não podem ser reduzidas às suas condições, desconsiderando as potencialidades que as integram a outros perceptuais, enquanto seres de consciência, pensamento e linguagem.
A linguagem é responsável pela regulação da atividade psíquica humana, pois é ela que permeia a estruturação dos processos cognitivos. Assim, é assumida como constituva do sujeito, pois possibilita interações fundamentais para a construção do conhecimento. Nesse sentido, se fazem necessários alguns questionamentos como: - Mas o que realmente possibilita a pessoa com necessidades especiais? Conhecimento, independência e interação social? Seria o domínio da oralidade? Da língua? A discussão é antiga, entretanto, é preciso pensar e construir uma prática pedagógica que assuma a abordagem de um ensino de Língua portuguesa através do Bilinguismo, que se volte para o desenvolvimento das capacidades das pessoas com necessidades especiais na escola com novas formas metodológicas que estimulem vivências e que instiga os alunos a aprenderem, propiciando condições essenciais de aprendizagens respeitando as singularidades e diferenças em seus contextos de vida.
Foucault diz, que o poder é algo que circula pelo social, não permanece em lugar único na sociedade. É relacional, ou seja, está numa relação de forças constante, com diferença de potencial. É dinâmico, pode ser invertido a qualquer momento. Se for uma relação, é preciso haver uma cumplicidade. Onde há saber, há poder. A esse respeito, o poder/saber não pode esbarrar nas resistências carregadas de preconceitos e estigmas, nas frustrações e nos medos dos educadores que se julgam incapazes de dar conta dessa demanda, sentindo-se despreparados e impotentes frente a essa realidade que é agravada pela falta de material adequado, de apoio administrativo e recursos financeiros.
Portanto as mudanças são fundamentais para a inclusão, mas exige esforço de todos possibilitando que a escola possa ser vista como um ambiente de construção de conhecimento, deixando de existir a discriminação de idade e capacidade. Estamos todos envolvidos nessas lutas e nossa participação deve ser consciente e lúcida, onde nos encontramos, seja na vida cotidiana, em nossa prática, no trabalho, nas instituições, precisamos ser animados pela esperança do sucesso da construção de uma nova sociedade onde saberes e poderes estejam a serviço do “cuidado de si”, do “cuidado dos outros” e do “cuidado da vida”, pois “somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, é que começam a crer em si mesmos, superando, assim sua convivência com o opressor” (Paulo Freire, 2001).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL, Ministério da Educação Parâmetros Curriculares Nacionais –Adaptações Curriculares: estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: BRASIL, 1999, 63 p.
Ministério da Justiça - Declaração de Salamanca e Linha de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais - Brasília, corde, 1997.
LOURO, Guacira Lopes. A escola e a pluralidade dos tempos e espaços. In: COSTA, Marisa Vorraber (org.) Escola básica na virada do século – cultura, política e currículo. São Paulo: Cortez, 2000.
PACHECO, José et al. (org.). Caminhos para a inclusão: um guia para aprimoramento da equipe escolar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Referenciais para Construção de Sistemas Educacionais Inclusivos-Fundamentação Filosóficos a História a Formação-EDUCAÇÃO INCLUSIVA Direito à Diversidade-curso de Formação de Gestores e Educadores.
YUS, Rafael - Educação Especial Uma Educação Holística para o séc XXI, Tradução. Daisy Vaz de Moraes - Porto Alegre, ARTIMED, 2002.
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