sábado, 17 de setembro de 2011

Ciclos Temáticos da Literatura de Cordel

      A Literatura de Cordel é conhecida pela sua diversidade de temas e de questionamentos. Entretanto é importante classificar e caracterizar esses temas para que facilite o estudo deste gênero, destacando as personagens protagonistas destes cordeis, o contexto histórico, a cultura e dentre outros fatores que influenciam os poetas no seu processo de criação.
      Não há uma explicação exata como determinado tema foi ou não escolhido, no entanto há uma relação com a época em que os temas surgem. Há uma diversidade com que os temas se apresentam. Alguns são representados por figuras humanas, como por exemplo: herói e anti-herói; aspectos de vivência social: religiosidade, aventuras, casos de amor. O elemento humano é considerado na literatura de cordel indispensável, pois faz parte da memória do povo as figuras mais populares. Os tipos humanos também são considerados importantes, pois é comum destacar os tipos étnicos ou regionais que aparecem na paisagem social, sobretudo no Nordeste.
A classificação de Manuel divide o acervo popular em três cliclos temáticos:
   I. Temas tradicionais: a.) romances e novelas; b.) contos maravilhosos; c.) estórias de animais; d.) anti-heróis/peripécias/diabruras; e.) tradição religiosa. Entre os exemplos mais famosos desse ciclo, estão: Proezas de Carlos Magno, Histórias dos Doze Pares de França, Cavaleiro Oliveiros, Cavaleiro Roldão, Roberto Diabo, Helena de Tróia, Histórias da Imperatriz Porcina, Donzela Teodora... E outros de origem bíblica: José do Egipto, Sansão e Dalila, Judas e histórias da Virgem Maria, Jesus, São Pedro, São Paulo... No Catálogo da Casa Rui Barbosa consta também contos maravilhosos: Ali Babá e os 40 Ladrões, Proezas de Malasartes, O Barba Azul, A Branca de Neve, A Bela Adormecida, O Ladrão de Bagdá e outros.
  II. Fatos circunstanciais ou acontecidos: a.) de natureza física (enchentes, cheias, secas, terramotos, etc.); b.) de repercussão social (festas, desportes, novelas astronautas, etc.); c.) cidade e vida urbana; d.) crítica e sátira; e.) elemento humano (figuras actuais ou actualizadas, como Getúlio Vargas, ciclo do fanatismo e misticismo, ciclo do cangaceirismo, tipos étnicos ou regionais, etc.
    III. Cantorias e pelejas: Poemas que nascem oralmente, no calor dos “desafios” entre dois ou mais cantadores. Em geral, tais pelejas ou cantorias se perdem, pois ninguém se preocupa em registrá-las por escrito. Mas algumas, devido à memória prodigiosa dos cantadores (e agora com os recursos electrónicos) acabam escritas em folhetos de cordel e se tornam famosas, inclusive, devido ao complexo virtuoso da estrutura poética que, por vezes, apresentam. É principalmente nestes casos que a literatura de cordel deixa de ser anônima (como é natural na literatura popular), pois sempre leva os nomes dos cantadores responsáveis.
      Segundo os pesquisadores, o Brasil é o maior produtor de literatura de cordel, no mundo ocidental: em cem anos publicou cerca de 20.000 folhetos, embora em pequenas tiragens (entre 100 e 200 exemplares cada). (Joseph M. Luyten).
      Há cantadores e cordelistas famosos (Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Cuíca de Santo Amaro, pseud. de José Gomes, Rodolfo Coelho Cavalcante Raimundo Santa Helena; Francklin Machado; Paulo Nunes Batista, entre outros) que, além de cantarem e imprimirem os textos tradicionais inventa cantorias com temas gerados pelas circunstâncias de seu tempo, pelo dia-a-dia do povo, e que servem de informação, deleite do ouvinte ou leitor, ou denúncia dos mal-feitos em prejuízo de alguém. A maioria dos cordeis é ilustrada pela técnica da xilografia (gravação em madeira, depois estampada à tinta no papel, e que tem evoluído muito, em subtilezas técnicas). Arte regional (no início minimizado como rudimentar), hoje constitui, juntamente com as “cerâmicas de Mestre Vitalino”, uma das experssões mais características da arte popular brasileira.
Os poetas biografados no acervo Rui Barbosa se encontram classificados em dois grupos: poetas pioneiros e poetas da segunda geração.
Do primeiro constam os poetas nascidos na segunda metade do século XIX e cujo ingresso na atividade do cordel ocorreu entre 1893 (ano em que se inicia a produção em série de folhetos) e 1930.
Ao segundo grupo pertencem os poetas que nasceram no início do século XX e entraram para o universo da literatura de cordel em uma época em que a maior parte dos representantes da primeira geração já havia morrido e a rede de produção e distribuição de folhetos já estava estabelecida.
 Com o correr dos tempos e o progresso urbano que, embora devagar, atingiu o Nordeste brasileiro, muitos costumes antigos desapareceram, mas a literatura de cordel resistente mantém-se viva até hoje, concorrendo com a rádio, o cinema e a televisão, para o entretenimento do povo nas praças, ruas, feiras, mercados ou em qualquer lugar em que haja um cantador e sua viola. Cada vez com mais evidência, o interesse pelos cordeis antigos vem decrescendo em favor dos novos cordeis que falam dos heróis - muito mais, anti-heróis - dos dias de hoje, e mais denunciando ou zombando do que inventando acontecimentos do novo Brasil e suas circunstâncias.
LITERATURA popular em verso: estudos / Manuel Diégues Júnior [et al]. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da USP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986. 468 p. (Reconquista do Brasil. Nova série, 94).


  

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